Consumo aumenta com estilo de vida saudável

Por Giovane Weber

Cultivo e venda de alimentos produzidos sem nenhum tipo de agrotóxico cria novas oportunidades no meio rural e ajuda consumidores a mudar hábitos. Número de produtores a adotar sistema triplicou desde 2012

Na propriedade de Zilda Regina da Costa, 46, interior de Marques de Souza, um campo de futebol deu lugar a uma estufa de 200 metros quadrados. Na estrutura são cultivados alface, rúcula, tomates, temperos, radite e pimentão.

A alta na procura por alimentos saudáveis, produzidos sem o uso de agrotóxicos, motivou o investimento de R$ 20 mil ainda em 2019. “O consumidor prioriza a saúde, produtos sem resíduos, seguros e isso faz a demanda aumentar”.

Hoje a venda de hortaliças ajuda a incrementar a renda familiar antes baseada em sua totalidade na produção de mel. No entanto, Zilda enfrenta alguns problemas como o controle de pragas e acerto na adubação. “A burocracia para conseguir o selo de orgânicos requer muitas exigências”.

A preocupação ambiental também reflete no aproveitamento da água da chuva. É recolhida em tanques e utilizada num sistema de gotejamento para irrigar as plantas. Já a venda é feita diretamente na propriedade à beira da rodovia BR-386, por onde transitam mais de 12 mil veículos por dia. “Além de conhecer o sistema de produção, o cliente pode fazer a colheita na hora”, explica.

“Produzimos saúde”

Há 15 anos a família Rosa, de Boqueirão do Leão se dedica à produção de dez variedades de hortigranjeiros sem o uso de agrotóxicos, numa área de 1,5 hectares. São 800 pés de tomate, com produção média de 4 mil quilos por ciclo, 12 mil pés de alface e 4 mil pés de repolho.

A atividade é coordenada por Alpídio, 61, com ajuda dos filhos João Paulo, 35, e Paulo Rodrigo, 30. “Produzimos saúde. Não usamos nenhum tipo de defensivo. Todo processo é natural e este é o diferencial que faz a demanda aumentar todos os dias”, entende Alpídio.

Os produtos são vendidos para redes de mercados em Lajeado, Porto Alegre e estabelecimentos locais. Reclama da falta de assistência técnica para melhorar o processo produtivo. “Falhamos no manejo e precisamos de orientação”, diz.

A família ainda mantém uma produção mensal de 5 mil litros de leite e cultiva 50 mil pés de tabaco por safra.

Produção triplica

De acordo com dados do Ministério da Agricultura o número de produtores de alimentos livres de resíduos saltou de 5,9 mil em 2012 para mais de 17,7 mil em 2019, um crescimento de 200%. Já as unidades produtivas saltaram de 5,4 mil para mais de 22 mil, entre 2010 e 2018.

No Estado tem cerca de 2,4 mil agricultores, 13,6% do total do Brasil. Dados da Organis aponta um faturamento de R$ 4,6 bilhões no setor de orgânicos. “Rompemos a barreira das 20 mil propriedades e o varejo entendeu a importância do orgânico no portfólio dos saudáveis”, observa o diretor Clauber Cobi Cruz.

Um em cada cinco brasileiros já consome algum alimento orgânico no país. “Quem tem o hábito, ingere em média três vezes por semana. Frutas, verduras e legumes estão entre os itens mais vendidos”.

Desafios

Para a diretora da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA) e coordenadora do Centro de Inteligência em Orgânicos (CI Orgânicos), Sylvia Wachsner, as maiores barreiras para o consumo são o preço, a conscientização sobre os benefícios e a questão da certificação.

Para ela, como a maior parte dos alimentos produzidos é feita por pequenos produtores e a venda é terceirizada, o que coloca em xeque a confiabilidade. “É preciso oferecer mais transparência aos consumidores. Falta, sobretudo assistência técnica, agrônomos e técnicos agrícolas que conheçam agroecologia e produção orgânica”.

Fonte: A HORA

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